Biólogo aposta em fruto nativo para restaurar Mata Atlântica e gerar renda sustentável em MG
21/10/2025
(Foto: Reprodução) Criador do projeto Lar dos Muriquis, o biólogo Leandro Moreira encontrou na juçara uma forma de unir preservação da floresta, geração de renda para agricultores e educação ambiental
André Dib
Na Zona da Mata mineira, uma palmeira antes conhecida apenas pelo palmito está ganhando novo significado. A juçara (Euterpe edulis), espécie nativa da Mata Atlântica, há muito tempo foi alvo de exploração predatória: o corte para a retirada do palmito leva à morte da planta, sem chance de rebrota. Hoje, porém, ela começa a se tornar símbolo de restauração ambiental e de uma nova economia.
À frente desse movimento está o biólogo Leandro Moreira, criador do projeto Lar dos Muriquis, em Muriaé (MG). Apaixonado pela conservação da fauna e da flora, Leandro encontrou na juçara uma forma de unir preservação da floresta, geração de renda para agricultores e educação ambiental.
“Quando conheci o potencial da juçara, percebi que era uma forma de conectar conservação e produção. É possível colher os frutos sem matar a planta, garantindo alimento para a fauna, sementes para o solo e, ao mesmo tempo, gerando um produto de altíssimo valor nutricional”, explica.
Nos últimos 15 anos, Leandro Moreira vem protegendo populações nativas de juçara e implantando novos plantios em áreas degradadas, antigos pastos e lavouras abandonadas
André Dib
Da preservação à produção
Nos últimos 15 anos, Leandro vem protegendo populações nativas de juçara e implantando novos plantios em áreas degradadas, antigos pastos e lavouras abandonadas.
Hoje, além de garantir a regeneração natural da floresta, ele já produz cerca de 400 litros anuais de polpa de juçara, considerada de qualidade premium.
A colheita é feita com técnicas que não causam dano à palmeira: foices de cabo longo, escadas adaptadas ou equipamentos de escalada
André Dib
A colheita é feita com técnicas que não causam dano à palmeira: foices de cabo longo, escadas adaptadas ou equipamentos de escalada. Em alguns casos, uma ferramenta chamada “busca-cachos” facilita o acesso aos frutos.
“Sempre deixamos parte dos cachos na planta, respeitamos a fauna que se alimenta deles e manejamos a copa para que a palmeira fique mais vigorosa nos anos seguintes”, diz o biólogo.
Expansão com impacto social
O “Lar dos Muriquis” não se limita à produção própria. Hoje, Leandro já compra frutos de pelo menos cinco agricultores da região, pagando por quilo e incentivando práticas sustentáveis. Outros produtores começam a se interessar pela proposta, antes desconhecida.
Além de comercializar a polpa, o biólogo promove oficinas, fornece sementes e ajuda agricultores a plantar em sistemas agroflorestais
André Dib
“Há poucos anos, muita gente via a juçara apenas como uma árvore ornamental. Agora, quando entendem que é possível conservar e lucrar ao mesmo tempo, se surpreendem. É um processo lento, mas que vai se multiplicar naturalmente”, afirma.
Além de comercializar a polpa, o biólogo promove oficinas, fornece sementes e ajuda agricultores a plantar em sistemas agroflorestais. Assim, a espécie se torna também ferramenta de educação ambiental e conscientização.
Parceria pela Mata Atlântica
O trabalho de Leandro tem o apoio da TNC (The Nature Conservancy) Brasil, que atua na Zona da Mata articulando projetos de restauração florestal, capacitação de agricultores e fortalecimento de viveiros.
A região é considerada estratégica para a conexão de fragmentos da Mata Atlântica e para a sobrevivência de espécies ameaçadas, como o muriqui-do-norte, maior primata das Américas.
Região é considerada estratégica para conexão de fragmentos da Mata Atlântica e para sobrevivência de espécies ameaçadas, como o muriqui-do-norte, maior primata das Américas
André Dib
Além da juçara, Leandro cultiva em sistemas agroflorestais café, banana, mandioca, cogumelos e mantém colmeias de abelhas sem ferrão. O objetivo é garantir diversidade produtiva e fortalecer a agricultura regenerativa.
Futuro sustentável
A expectativa é que, nos próximos cinco anos, a produção de polpa de juçara aumente em até dez vezes. Mas, para o biólogo, o crescimento precisa vir acompanhado de responsabilidade.
“Não queremos transformar a juçara em monocultivo. Nosso foco é em plantios regenerativos, agroflorestais e orgânicos, com bases sólidas e consistentes”, defende.
O fruto da palmeira juçara é uma polpa roxa com sabor similar ao do açaí, mas mais suave e com maior concentração de compostos antioxidantes
André Dib
Parte do lucro deve ser revertida em novas capacitações, plantios e apoio a projetos de conservação, como o do próprio muriqui-do-norte, espécie com a qual Leandro trabalha há mais de duas décadas.
“A juçara é a prova de que é possível restaurar a natureza e gerar renda de forma equilibrada. É uma espécie que abre portas para mostrar o potencial que ainda existe na nossa biodiversidade”, conclui.
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