'Minha presença é um gesto político': a trajetória da brasileira negra que largou a carreira como modelo para liderar uma startup de games em NY

  • 08/11/2025
(Foto: Reprodução)
Brasileira larga carreira como modelo para liderar startup de games em NY A brasileira Raissa Leme tinha apenas 16 anos quando decidiu deixar tudo para trás e embarcar em um avião rumo à China com o objetivo de encontrar o seu espaço no mundo da moda. O que ela sequer imaginava na época era que, alguns anos mais tarde, se tornaria uma das poucas mulheres negras a liderar uma startup de games em Nova York, nos Estados Unidos. Modelo, influenciadora e co-fundadora da MOTHER, um estúdio no Brooklyn voltado para games, arte e tecnologia, Raissa nasceu e foi criada em Sorocaba, no interior de São Paulo. Na cidade, morou no Bairro dos Morros e no Júlio de Mesquita. 📲 Participe do canal do g1 Sorocaba e Jundiaí no WhatsApp "Sorocaba é um lugar que guardo com muito carinho, porque foi onde vivi minha infância e formei minhas primeiras referências antes de começar a viajar pelo mundo", relembra a criadora da startup, em entrevista ao g1. A infância de Raissa, hoje com 29 anos, foi cercada de afeto. "Eu sou cria de mãe solteira e filha única por parte de mãe. Meus pais sempre foram muito parceiros, mas nunca moramos nós três juntos", conta. Raissa Leme largou a carreira como modelo para liderar uma startup de games em NY Arquivo pessoal Oportunidade do outro lado do mundo A influenciadora fez os ensinos fundamental e médio em escolas públicas de Sorocaba, mas, por conta da viagem de seis meses à China na adolescência, precisou concluir os estudos por meio do supletivo. "Fui para a China muito jovem, aos 16 anos, para trabalhar como modelo. A escolha veio pela oportunidade concreta que apareceu na época, mas também pelo meu desejo de viver algo totalmente diferente do que conhecia, e vi a oportunidade do começo das realizações dos meus sonhos, já que as portas não estavam abertas para mim no Brasil." Foi a primeira vez que Raissa entrou em um avião. Ela não falava inglês e, de cara, precisou enfrentar uma viagem de 25 horas de duração. "Lembro que foi uma decisão muito difícil no momento, porque realmente foi a minha primeira experiência. Nenhum dos meus pais tinha pego avião até então e tampouco viajado para fora do Brasil", continua. Apesar do choque cultural de ter trocado o ocidente pelo oriente, a experiência profissional com a moda ensinou Raissa a ter mais disciplina e deu a ela acesso a espaços que antes pareciam impossíveis. "Culturalmente, foi um choque e, ao mesmo tempo, uma grande escola: eu estava sozinha, em um país com uma língua e costumes completamente diferentes, então precisei aprender a me adaptar rápido, a respeitar e entender outras formas de viver. Essa vivência me abriu muito a cabeça. A moda sempre foi uma parte muito importante da minha vida, abriu portas e me levou a lugares que jamais imaginei", reforça. Durante a carreira como modelo, a brasileira teve a oportunidade de participar de grandes projetos. Entre eles, campanhas para grifes como Louis Vuitton e outras marcas grandes, como Revlon, Adidas e Nordstrom. Aos 16 anos, Raissa se mudou para a China para investir na carreira de modelo Arquivo pessoal Recalculando a rota Mesmo assim, chegou um momento em que Raissa começou a sentir que precisava criar algo que fosse além da imagem e que pudesse transformar a forma como as pessoas se relacionam com elas mesmas. Foi então que surgiu a possibilidade de recalcular a rota e passar a trabalhar com tecnologia e games. A sorocabana havia se mudado para os Estados Unidos em 2020, duas semanas antes de o lockdown ter sido decretado no país por conta da pandemia de Covid-19. "A tecnologia é uma ferramenta muito poderosa. Os games são hoje uma das linguagens mais potentes da nossa era. E eu queria estar justamente nesse lugar, construindo algo que fosse além da diversão, mas que também pudesse expandir consciências", explica. Desta inquietação, nasceu a startup, em meados de 2023. Junto da sócia americana Kelsey Falter, que compartilha de um ponto de vista e vivências muito parecidos com os dela, Raissa começou a criar aplicações que ajudam as pessoas a refletirem sobre si mesmas e a resgatarem a sua memória digital. "Estamos construindo experiências que, na superfície, parecem brincadeiras, mas que, em profundidade, carregam um poder real de transformação." Embora não tenha uma formação técnica em games, a influenciadora mergulhou no universo e foi se especializando na prática: estudando, conversando com profissionais da área e somando suas referências e experiências de vida em diferentes culturas. Na opinião dela, para quem gosta de games, o próprio processo de criação é a melhor escola. Hoje, a startup conta com cerca de 30 pessoas, entre artistas, programadores e criativos, distribuídas entre Nova York, São Paulo, Viena e outras cidades do mundo. "Mas não penso na MOTHER como 'quantas pessoas' e, sim, como 'quantas visões'. Cada membro do time traz uma bagagem cultural, técnica e pessoal diferente, e essa soma é o que torna o estúdio tão singular. Nossa força está na diversidade", reforça. Le Zoo funciona como um espaço coletivo no qual cada jogador cria a sua criatura Reprodução Mundo aberto O primeiro game da startup, chamado de Le Zoo, funciona como um espaço coletivo no qual cada jogador cria a sua criatura e pode explorar diferentes mundos, participar de experiências e interagir com outras pessoas. "É um mundo aberto dividido em três reinos e cinco casas, cada um representando aspectos da identidade humana. Na superfície, parece um jogo divertido e cheio de fantasia, mas, em profundidade, mostra ao jogador que a tecnologia pode ser usada para despertar agência e autoconhecimento, em vez de reforçar prisões algorítmicas", detalha. No momento, o acesso ao jogo está sendo liberado em fases de playtest, para grupos selecionados de jogadores, que ajudam a empresa a construir e evoluir a experiência junto à comunidade. A ideia, segundo Raissa, é que o game vá se expandindo a partir desses testes, até se tornar aberto a todos. O Le Zoo estará disponível gratuitamente, apenas para celulares. Raissa Leme é mãe do Rio, de um ano e cinco meses Arquivo pessoal Exercício diário Mãe do Rio, de um ano e cinco meses, a sorocabana diz que conciliar a criação da startup com a rotina em casa é um exercício diário de presença, paciência e equilíbrio. "A maternidade me ensinou sobre confiar no tempo das coisas, mas também sobre acolher o inesperado", comenta. "Pessoalmente, meu futuro está muito ligado à maternidade. Criar o Rio e criar a MOTHER acontecem em paralelo, e eu sinto que essas duas jornadas se alimentam mutuamente. Meu desejo é continuar crescendo junto com o meu filho, aprendendo a equilibrar expansão e cuidado, presença e movimento, e curtir muito essa oportunidade de ver a vida crescendo e expandindo aos meus olhos." Além disso, para Raissa, ser uma mulher negra liderando uma startup de games no EUA significa ocupar um espaço historicamente negado a ela. "Então, a minha presença já é um gesto político. Liderar um projeto de games, para mim, é também disputar narrativas. E mostrar que pessoas negras não estão só construindo cultura, mas também criando tecnologias, inventando mundos, expandindo o imaginário. Isso é fundamental para que novas gerações vejam que também pertencem a esses lugares", completa. Sorocabana concilia a maternidade com a criação da startup de games nos EUA Arquivo pessoal Veja mais notícias da região no g1 Sorocaba e Jundiaí VÍDEOS: assista às reportagens da TV TEM

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sorocaba-jundiai/noticia/2025/11/08/minha-presenca-e-um-gesto-politico-a-trajetoria-da-brasileira-negra-que-largou-a-carreira-como-modelo-para-liderar-uma-startup-de-games-em-ny.ghtml


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