'Não consigo dormir direito', diz pai de menina morta pela mãe e padrasto no interior de SP
17/10/2025
(Foto: Reprodução) 'Não consigo dormir direito', diz pai de menina morta pela mãe e padrasto no interior de SP
Matheus Xavier Lisboa/Arquivo pessoal
Pela primeira vez, o pai de Maria Clara Aguirre Lisboa, de cinco anos, falou publicamente sobre a morte da filha, que foi assassinada pela mãe e pelo padrasto em Itapetininga (SP). O corpo da criança foi encontrado enterrado em uma cova rasa e concretada no quintal da casa onde a família morava.
Em entrevista ao g1, Mateus Xavier Lisboa, mecânico de motos autônomo, disse que ainda tenta lidar com a perda e com as lembranças da filha.
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"Estou sentindo uma dor que nunca senti. Não consigo dormir direito. Sonho com ela todos os dias. A última vez que vi minha filha, ela me abraçou forte e disse que me amava. Tínhamos uma relação muito boa. Ela era carinhosa e sempre me abraçava."
Segundo Mateus, a convivência com a mãe da menina era limitada, mas o vínculo com a filha era próximo.
"Em relação à mãe dela, eu não convivia muito, só quando minha mãe pegava a menina. A última vez que estivemos juntos foi há cerca de sete meses, em uma chácara de uma tia minha, em Sorocaba. Foi um dia muito bom e o último que a gente passou junto. Depois disso, nunca mais vi ela. A gente tinha esperança de encontrá-la, mas acabou encontrando ela morta."
O pai também afirmou que tentou acionar os órgãos de proteção quando começou a desconfiar de que algo estava errado.
"Faz uns cinco meses que começamos a procurar o Conselho Tutelar. Muita gente fala que a gente não correu atrás, mas corremos, sim, atrás do conselho, da polícia. No fim, só foram achar agora."
Sobre os áudios que recebeu do padrasto com mensagens que diziam que a menina já estava morta, Matheus disse que inicialmente não acreditou. "Quando soubemos, achamos que era mentira. Tentei buscar informações, mas não consegui. Depois veio a confirmação e foi desesperador."
Padrasto mandou áudio a pai falando que menina enterrada em quintal estava morta
Padrasto tinha extensa ficha
O padrasto que confessou ter matado a enteada e enterrado o corpo no quintal de casa já tem passagens policiais por crimes graves, incluindo estupro, roubo e ameaça.
Conforme apuração do g1, entre as ocorrências registradas na ficha de Ribeiro Machado, de 23 anos, consta uma denúncia de ameaça e vias de fato, registrada em janeiro de 2025, cuja vítima era a própria Maria Clara. O caso foi enquadrado na Lei Maria da Penha por se tratar de violência doméstica.
Além desse registro, o homem responde por porte de arma, também em janeiro de 2025; roubo qualificado, em março de 2025; estupro, em agosto de 2022; e roubo, em setembro de 2019.
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Reprodução
O Conselho Tutelar informou que Maria Clara estava sob os cuidados da mãe, Luiza Aguirre Barbosa Da Silva, de 25 anos, e que já haviam sido aplicadas medidas protetivas para orientar e acompanhar a família. O órgão não detalhou quais medidas seriam essas.
O Conselho Tutelar ressaltou que não tem poder para retirar a guarda de uma criança, cabendo essa decisão à Justiça. Segundo o órgão, foram feitas diversas tentativas de contato com a mãe por telefone e em visitas aos endereços cadastrados, mas todas sem sucesso.
"O boletim de ocorrência foi registrado no mesmo dia em que o órgão recebeu denúncia sobre a possível morte da criança, em 8 de outubro", disse em comunicado divulgado na quarta-feira (15).
Confira a cronologia do caso:
Veja cronologia do caso da menina morta pela mãe e padrasto em Itapetininga (SP)
Arte/g1
De acordo com a perícia, o corpo de Maria Clara, encontrado em 14 de outubro, estava enterrado havia cerca de 20 dias, ou seja, no fim de setembro. A investigação aponta que o casal ocultou o corpo dois dias após o crime.
No início de outubro, a avó paterna de Maria Clara procurou o Conselho Tutelar para denunciar o desaparecimento da neta. Segundo o órgão, a equipe já acompanhava o caso da mãe desde um episódio de ameaça feita pelo padrasto meses antes.
Conforme o boletim de ocorrência registrado pelo Conselho Tutelar, não havia contato com a mãe desde agosto. O órgão formalizou o desaparecimento da menina na Polícia Civil no dia 8 de outubro.
Após denúncia e diligências, a Polícia Civil encontrou o corpo de Maria Clara em uma cova rasa, já em estado avançado de decomposição, no dia 14 de outubro. A menina apresentava sinais de lesões provocadas por instrumento contundente, possivelmente ferramenta.
No mesmo dia, Luiza e Rodrigo foram localizados pela polícia e, durante o interrogatório, confessaram o crime. Segundo a polícia, eles admitiram ter matado a menina e concretado o corpo para esconder o crime.
No dia 15 de outubro, foi divulgado um áudio que o padrasto enviou ao pai da criança, dizendo que a menina estava morta e que, com isso, acabaria o vínculo dele com a mãe da criança. Ainda na mensagem, o suspeito pede ao pai que pare de "encher o saco" dele e da mãe da criança.
Criança é encontrada morta no quintal de casa; padrasto e mãe foram presos
De acordo com a avó da vítima, a gravação foi enviada duas semanas antes da descoberta do corpo.
Ainda no dia 15, após audiência de custódia, a Justiça manteve a prisão preventiva da mãe e do padrasto. Ela foi transferida para a cadeia de Votorantim (SP) e ele para Capão Bonito (SP). Os dois devem responder por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
Segundo o delegado responsável pelo caso, Franco Augusto, a menina de cinco anos sofria agressões frequentes da mãe e do padrasto. Ainda conforme o delegado, o padrasto já tinha histórico criminal e torturava psicologicamente a criança e a mãe dela, utilizando a menina como forma de pressão, além de agredi-la fisicamente.
Na tarde do dia 15, a menina foi sepultada. O corpo de Maria Clara foi encontrado em estado avançado de decomposição, o que impediu a realização de velório. O sepultamento ocorreu no Cemitério Colina da Paz, e somente familiares do pai biológico acompanharam.
Sem velório, menina achada morta no quintal é enterrada em Itapetininga (SP)
Reprodução/TV TEM
Menina Maria Clara Aguirre Lisboa, de cinco anos, foi encontrada morta na tarde de terça-feira (14)
Vanderleia Monteiro do Amaral/Arquivo pessoal
Padrasto e mãe suspeitos de matar menina de cinco anos e enterrar corpo em quintal de casa, em Itapetininga (SP)
Reprodução
Mãe e padrasto confessam terem matado criança e concretado o corpo no quintal de casa em Itapetininga
Polícia Civil/Divulgação
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